tempo teimoso

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"Agora falamos nós"



As cores, os sons e os cheiros do Outono já cá estavam, sob aquele sol mais que morno, baixo e molengão. Hoje chegou a chuva. Cheira a terra molhada, as moscas andam assim meio gaseadas, a passarada chilreia muito e banha-se nas poças e já posso calçar as botas e chapinhar por aí com a maltosa.

Na sexta-feira passada aconteceu um encontro de jovens em Oeiras. Chamou-se "Agora falamos nós". E falaram bué. Os do palco e os da plateia. Houve alturas em que foi assim uma espécie de terapia colectiva. Muitos deles verbalizaram pela primeira vez o que lhes apertou o coração, os punhos e o resto todo anos a fio. As maldades que lhes têm e continuam tantas vezes a fazer, os abraços e os mimos que não lhes deram, as partidas muitas que a vida lhes tem pregado fizeram parte do seu discurso directo ao longo de todo o dia. Atitude. Não sei se conheço adultos alguns que de tal fossem capazes. Quando crescemos parece às vezes perdemos o coração e outras partes que nos dão a coragem da frontalidade, mesmo quando negra.

Não fui mãe menina nem menina perdi mãe nem pai, não cresci num bairro de barracas nem numa instituição, nunca senti na pele a discriminação nem a pobreza mas com vocês todos, com quem tenho crescido como mulher, confrontei-me com essas verdades. Tenho plena consciência do quão duras têm sido as vossas e muitas outras vidas. Acredito que é possível quase tudo mudar. Sei que não depende apenas da nossa vontade e do nosso esforço. Nós somos que nem a "Velha Xica" que não fala política. Os outros, os que falam é que têm o mundo praticamente na mão. Nós temos a liberdade de os escolher, é um facto. O que acontece é que não raras vezes escolhemos os menos maus de entre uma multidão de corja.

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