tempo teimoso

quinta-feira, 13 de março de 2008

Pai ...

Eram duas e meia da manhã. O telefone de casa tocou. A estas horas da madrugada os telefones só tocam por má nova. Do outro lado a mãe chorava, falava rápido, atropelando palavras, pedindo urgência na ida. A mãe nunca pede nada, muito menos de madrugada. A mãe nunca fala rápido, ainda por cima quando devia estar a dormir. A mãe nem é de chorar...

Enganou-me. Ou não. Não me disse que estavas morto mas não me deu qualquer esperança de vida. Acho nem ela ainda tinha certezas. Contou-me do filme que tinham visto noite dentro, duma brincadeira de almofadas pra lá e pra cá e duma má disposição que não esperou pelo famoso chá de louro da avó Naicinha.

Foram os trezentos quilómetros mais longos de sempre. Estava frio, muito frio. Os miúdos enroscados uns nos outros, soluçando entre mantas.

A mãe ia ligando, de quando em quando, pedindo ordem na condução e calma e coragem e aqueles cuidados todos que ela sempre tem, mesmo quando a hora é de desespero.
Parecia um filme que não era nosso. Faltavam lá as tuas graças e as tuas lágrimas. Sempre as tiveste faceis. As graças e as lágrimas.

Entre tantas coisas, deixaste-nos a tua forma carinhosa de amar. Não é que seja relevante, mas também herdamos uma boa dose da tua teimosia...

Foi há um ano. A mãe chega hoje. Vem passar o dia connosco.

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