tempo teimoso

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O que eu gosto do Dimas ...



O Dimas é um puto praí duns dezassete anos.

É teimoso como uma mula e tem um coração do tamanho do mundo.

Um dia destes, quase quase a terminar o ano lectivo ligou-me:

- Mô, tou assim um bocado sem saber se vou passar ou chumbar. Depende aí dum trabalho d'inglês pr'amanhã de manhã... Dá pra m'ajudares?

À noitinha, depois do treino e de dar umas rapiscadas de olho pelas miúdas mais giras do bairro, apareceu.

- Já ouviste falar dum gajo que é o Luther King? É sobre esse que eu quero fazer o trabalho.

E eu falei-lhe da dificuldade que era fazer o que quer que fosse de jeito sobre Luther King com tão pouco tempo e ainda por cima em inglês e preparar apresentação e tal e coiso e que era melhor ele escolher tipo uma modalidade desportiva ou uma música ou uma diva boazona ... E ele que não, que uma setôra tinha falado no homem e que aquele é que era.

Espreitamos livros, sites, fotografias e entrevistas. Entusiasma-mo-nos ambos.

Contei-lhe do "I have a dream" musicado. Procuramo-lo. Extasiamo-nos ambos.

No dia seguinte liguei-lhe ao meio-dia. A apresentação tinha sido um sucesso.
O ano estava passado.

Gritámos ambos: "I have a dream!"

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Timor



Só passados quase oito anos, em 9 de Setembro de 1999, Portugal de branco saiu à rua, calando um minuto por Timor.

Fernando Sylvan, timorense de nascimento, alma e coração ( Dili, 26 de Agosto de 1917), à sua maneira curta e clara escreveu:


"Pedem-me um minuto de silêncio pelos mortos mauberes

Respondo que nem um minuto me calarei"

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Fernando Sylvan

Tinha 16 anos quando recebi o meu primeiro livro de poesia. Chama-se "Mulher ou o livro do teu nome". São poemas de amor, curtos e belos, que em branco navegam entre esquiços de nús (de Luís Rodrigues). Na época imaginei-os escritos por um jovem adolescente perdidamente apaixonado. Amei-o profundamente.

Quatro ou cinco anos mais tarde cruzei-me com o poeta. O Professor Sylvan tinha então perto de 70 anos e presidia à Sociedade de Língua Portuguesa. Vestia de branco, falava bonito e devagar, contava-nos graças e desgraças do "Tempo Teimoso", quando ao fim do dia o nosso pequeno grupo de estudantes universitários o procurava.

Dessa obra, publicada em 1974, mas cujos poemas há muito circulavam entre mãos, na clandestinidade, destaco:
"LUTA


Pássaro sem espaço

Rio sem leito

Árvore sem floresta


Mas dou sinais de mim!"




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